Seis anos atrás, numa tarde de fim de novembro, eu e Aril tomamos uma decisão impulsiva (somos muito bons em decisões impulsivas): adotaríamos um gato. Começamos a procurar no facebook por filhotes e uma ligação leva a outra, que leva a outra, que nos leva a uma moça que tinha um cachorro e um gatinho abandonado estava entrando na casa dela pra comer ração do doguinho. “Mas olha, a gatinha estava aqui até ontem e fugiu durante a noite… Se ela voltar eu falo pra vocês viu? Opa, pera… Ela acabou de aparecer!”. Tínhamos tirado a sorte grande, né? Mas não tínhamos ainda ideia do quanto.
Você chegou já carinhosa, dormindo com a gente e muito fofa. Tinha medo de sair na rua e ficava nervosa quando tinha que ir em qualquer lugar que não fosse dentro de casa. Amamos você com tudo que tínhamos, mesmo que não fosse muito. Oferecemos tudo que poderíamos dar, e você floresceu. Brincava com a gente, rolava na terra, comia grama. Você nos acompanhou por muitas casas. As que foram muito boas pra você e pra gente, e as que não foram muito boas pra você nem pra gente. Mas você estava lá, sempre. E te amávamos. Em como você saía para tomar sol de manhã todos os dias, como escolhia os lugares mais quentes e específicos da casa pra dormir (esse lugar geralmente era em cima do videogame que tínhamos no momento). Te amávamos nas dormidas toda torta no sofá, na forma como você comia graminha feliz, em como adorava pedir carinho para as visitas, deixando todas encantadas com sua fofura.
Te amávamos, ponto final.
Te amamos.
Por você e com você, eu e Aril criamos um mundo e um universo. Você era a gata gamer, a traficante de petiscos do bairro, a que aparecia do nada na rua e dava um beliscão no Aril, a que desenvolveu e programava em React Cative, pro CatPhone.
Você era a melhor parte de mim. A que me fazia ter forças para acordar de manhã, a que me ajudava a continuar vivo quando tudo que eu queria fazer era desistir. A que… me trouxe esperança na vida. Que me fez perceber que eu amava gatos, e, mais ainda, o quanto eu amava e amo você. Penny, você era tudo pra gente.
Com você eu descobri o que era worldbuilding na prática, desenvolvendo toda uma história do que você fazia quando a gente não tava olhando. Reuniões estratégicas com os gatos da pracinha, trabalhos escondidos e tudo mais. A gente tinha a Dênnesgurmina, a delegada pennesgurmina. Ou a Doutorona pennesgurmina, depende do contexto. A Jênnesgurmina, a Juíza pennesgurmina. E, claro, nenhuma evidência de que elas eram todas você. A gente inventava diálogos, situações completas e detalhadas… e continuava. Com você ali entre nós, na cama, na sala, na varanda. Existindo conosco, persistindo conosco.
E apesar de tudo, uma semana atrás o mundo virou de cabeça pra baixo. Você estava estranha, quieta e cabisbaixa. Começamos as idas e vindas do veterinário, internação, medicação e muitas lágrimas todos os dias. No fim, hoje, 14 de março de 2021, você nos deixou. A decisão mais difícil que já tomamos na vida, mas a que parecia apenas… correta, diante de tudo que estava acontecendo. Doeu. Meu deus, dói a cada segundo. Ainda acho que vou entrar no quarto e te encontrar dormindo no guarda roupa. Que vou sentar no sofá e ver você tomando sol deitada na cortina. Ainda acho que vou te encontrar rolando no tapete ou dormindo dentro da casinha do seu apartamento de dois andares. Mas, no fundo, eu sei (e espero, meu deus, espero) que a gente tomou a decisão correta. Você está livre agora, pra correr e pular e brincar de novo. Sem dor, sem sofrimento.
A gente brincava que as pennesgurminas viram pennesgurminas gigantes quando morrem, e que elas são invisíveis. Você é uma pennesgurmina gigante agora, e vai cuidar da gente, eu sei que vai. Maior que um sol, e eu vou continuar te orbitando. Você foi a luz dos meus dias Penny, e eu vou te amar pra sempre. Espero que você saiba e se lembre disso.
Nunca vamos te esquecer.
Obrigado por tudo.
Cada momento, carinho, miado e lambida. Obrigado.
Você me ensinou sobre um amor que eu não sentia há muito tempo, e foi realmente uma companheira de quatro patas.
Descanse, meu bem.
Como eu li naquele livro que a gente ama: “Eu não sei onde fica o outro lado, mas eu acredito que seja em algum lugar, e espero que seja bonito”.
Te espero no infinito, amor.